A energia sempre teve um papel de destaque na economia e cada vez mais percebemos a sua importância para a ecologia. Com as dimensões do aquecimento global, a gestão eficiente de energia ganha mais estímulos, estudos e ferramentas. Já mencionamos o recente programa “Energia Sustentável pra Todos” das Nações Unidas, e nesta coluna falaremos das iniciativas da ISO sobre este tema.
A série de normas 50000 da ISO é um das novas ferramentas para melhoria do desempenho energético. Ela nasceu da discussão sobre gestão da energia em alguns países, em 2005, que levou posteriormente ao envolvimento da várias partes interessadas e comunidade internacional, determinando em 2007 a necessidade de uma nova norma internacional. Em 2008, a ISO aprovou a proposta dos Estados Unidos e Brasil pra conduzir esta tarefa, por meio de seu Comitê Técnico TC 242.
Depois de cinco reuniões plenárias, com a participação direta de 48 países e mais de 17 como observadores, foi publicada em junho de 2011 a primeira norma da Série 50000, a norma “ISO 50001- Sistema de Gestão da Energia: Requisitos com Guia para Uso”, que se baseou em diversas normas nacionais e na norma europeia EN16001. Também em junho de 2011 foi publicada a norma brasileira, a ABNT NRB ISO 50001.
Esta norma tem como objetivos:
· Habilitar a organização a estabelecer sistemas e processo para melhoria do desempenho energético, entendido como resultados mensuráveis relacionados á eficiência energética, uso e consumo de energia;
· Promover um uso mais eficiente das fontes de energia disponíveis;
· Conduzir a redução das emissões de gases de efeito estufa e outras emissões ambientais associadas;
· Conduzir a redução do custo da organização com energia;
A norma é aplicável a todos os tipos de tamanhos de organizações. Ela baseia-se em elementos comuns às normas ISO de sistemas de gestão, como a de qualidade (ISO 9001) e meio ambiente (ISO14001), podendo ser integrada a outros sistemas de gestão ou implementada separadamente. A estrutura é baseada no ciclo PDCA-(P) Planejar, (D) Executar, (DO), (C) Checar, (A) Atuar.
Dentre os elementos comuns aos demais sistemas de gestão, destacam-se:
· Política energética;
· Identificação dos requisitos legais e outros aplicáveis à gestão de energia;
· Estabelecimento de objetivos, metas e programas de gestão de energia;
· Documentação de controle;
· Definição de responsabilidades, autoridades, recursos, competências, treinamento, conscientização e comunicação;
· Estabelecimento de procedimentos de controle sobre projeto, aquisição e operação da organização;
· Monitoramento e medição;
· Tratamento de não conformidades, com as respectivas correções, ação corretiva e ação preventiva;
· Realização de auditorias internas do Sistema de Gestão de Energia (SGE);
· Revisão do SGE pela alta administração da organização.
As principais diferenças em relação às demais normas de sistemas de gestão são:
· Mesmo não estabelecendo requisitos absolutos para o desempenho energético, há uma ênfase maior na demonstração efetiva da melhoria contínua deste desempenho;
· Realização de um trabalho técnico inicial, consistindo de uma revisão energética, definição de uma linha de base (referência(s) quantitativa(s)) fornecendo uma base para comparação do desempenho energético para subsidiar o processo de melhoria contínua do desempenho;
· Auditoria interna do SGE incluindo aspectos técnicos da gestão de energia e demonstração efetiva da melhoria contínua do desempenho;
· Maior ênfase nas responsabilidades e competências do representante da direção (coordenador pelo SGE na organização).
A norma pode ser usada para certificação, registro ou autodeclaração. No entanto, os sistemas de certificação estão sendo estruturados nos vários países, sendo que a Holanda foi o primeiro a ter um esquema oficial. No Brasil, o órgão governamental encarregado da estruturação de critérios de certificação de sistemas de gestão, o Inmetro, esta estudando a definição nacional em médio prazo. Mesmo assim, dezenas de empresas solicitaram auditorias de acordo com a norma ISO 50001, no setor elétrico/energia (como Schneider Electric, na França; BSES Kerala Power e Dahanu Power Station, na Índia), eletrônico (Delta Electronics, na China; AU Optronics, em Taiwan;e Sansung na Coréia), automotivo Subaru, nos Estados Unidos; Porsche, na Alemanha),farmacêutico (Pfizer, na Irlanda),químico (Bangkok Synthetics, na Tailândia).
As empresas certificadas relataram benefícios: a Delta, na China, obteve 37% de redução de consumo de energia em relação a 2009; a Schneider Electric, na França, apontou,além de maior eficiência, também o reforço da posição de liderança em produtos e soluções em gestão de energia; na Índia, a Dahanu Power Station está projetando economia média anual de energia de R$3,5 milhões.
Atualmente, a estrutura e a atuação do TC 242 foram ampliadas para elaborar mais normas de gestão de energia relacionadas à ISO 50001 e outros assuntos associados. A nova estrutura do TC 242 é ilustrada na figura a seguir e em cada um dos quatro grupos de trabalho são apresentadas as sete normas em elaboração atualmente.
Este Comitê Técnico 242 tem uma atuação conjunta com o TC 257, que desenvolve norma sobre economia de energia, tais como:
· ISO/ICE CD 13273-Eficiência Energética e Fontes de Energia Renovável- Terminologia Comum Internacional.
· ISO/NP 17741- Regras Técnicas Gerais para Medição, Cálculo e Verificação das Economias de Energia em Projetos.
· ISO/NP 17742- Métodos Gerais de Cálculo de Eficiência de Economias de Energia para Países, Regiões ou Cidades.
· ISO/NP 17743- Definição de uma Estrutura Metodológica Aplicável ao Cálculo e Relato de Economias de Energia.
O assunto interessa diretamente as empresas do setor elétrico, reforçando o seu negócio e trazendo benefícios econômicos, operacionais e ambientais.
E a sua empresa:
· Está buscando ferramentas para melhoria do desempenho energético?
· Está tratando a gestão de energia como um assunto estratégico ou como um assunto técnico da área de engenharia ou manutenção?
· Já fez uma revisão energética profunda, identificando as muitas oportunidades para melhoria da gestão energética e obtenção de ganhos, como as empresas citadas no texto?
· Já implementou um sistema de gestão de energia para obter estes benefícios?
Fonte: Revista O Setor Elétrico