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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

SINÔNIMO DE QUALIDADE E SEGURANÇA

Certificado de processos e produtos contribui para o desenvolvimento da indústria brasileira e para a garantia da competitividade de produtos nacionais.

A história dos processos de certificação, no Brasil, confunde-se com a história da industrialização e permeia toda a criação de dois dos principais órgãos responsáveis pelas normas e certificações no país: o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e a Associação Brasileira de Normas (ABNT).
Em carta escrita em 1973, pelo então Ministro Interino da Indústria e do Comércio, Luiz de Magalhães Botelho, a certificação de produtos era uma necessidade urgente criada pela industrialização acelerada no Brasil.
Em seu parecer, era indispensável disciplinar qualitativamente a produção e a comercialização dos produtos industrializados nacionais, além dos importados, de forma a garantir “requisitos mínimos e razoáveis de qualidade e segurança”.
O ministro segue em sua correspondência, dirigida ao presidente Emílio Garrastazu Médici, ressaltando a necessidade de se estabelecer normas e procedimentos, técnicos e administrativos, que promovessem a melhoria e regulamentassem a verificação da qualidade dos produtos industriais nacionais destinados à exportação. O intuito era controlar a entrada destes bens no mercado internacional, também assegurando a defesa da balança comercial brasileira. Como este processo tomou forma, você lê nas páginas que seguem.

AINDA COLÔNIA

Segundo histórico divulgado pelo Inmetro, a primeira tentativa de se uniformizar as medidas brasileiras ocorreu ainda no chamado Primeiro Reinado e teve como base os parâmetros de medidas utilizados na Corte Portuguesa.
Em 1830, o sistema métrico decimal que vigorava na França foi adotado por sugestão do deputado gaúcho Cândido Baptista de Oliveira. Porém, foi somente em 26 de junho de 1862, durante o segundo reinado, que Dom Pedro II promulgou a Lei Imperial nº 1157, oficializando a utilização do sistema métrico decimal francês e colocando o Brasil na lista das primeiras nações a adotar o novo sistema como signatário da Convenção do Metro, instituída em 20 de maio de 1875.
O desenvolvimento da indústria, no século XX, intensificou a necessidade de se criar instrumentos mais eficazes de controle que impulsionassem e protegessem produtores e consumidores. Em 1961, foi criado o Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM), órgão centralizador da política metrológica nacional. Em 1962, o INPM adotou o Sistema Internacional de Unidades (SI) – consolidado pela 11ª Conferencia Geral de Pesos e Medidas em 1960 – para que pudesse exercer suas funções de forma plena. Os Órgãos Estaduais, hoje denominados Órgão Delegados, foram incumbidos da execução de atividades metrológicas, atingindo cada região do país.
Na década de 1960, o “milagre econômico” impulsionou novas políticas governamentais de apoio ao setor produtivo, que precisou se adaptar a toda uma série de novas tecnologias de maneira muito rápida, e contemplando a qualidade exigida pelo consumidor. Foi deste cenário que nasceu, em 1973, o Inmetro.
No início de suas atividades, o instituto certificava apenas produtos que oferecessem risco à saúde e à segurança de seus usuários. A partir de 2000, foram incluídos os fatores meio ambiente, relações de consumo e balança comercial como critérios para certificação.

AS NORMAS

As normas técnicas fazem parte do cotidiano de toda a sociedade. Elas estão nos fios e cabos das instalações elétricas de sua casa e até nos brinquedos de seus filhos. Mais do que isso, elas participam das relações entre cidadãos, empresas, governo e associações de diferentes perfis. No Brasil quem garante a criação destas normas, há 70 anos, é a ABNT.
Estes documentos são criados para estabelecerem padrões reguladores com o objetivo de garantir a qualidade de produtos industriais, a racionalização da produção e processos , o transporte e o consumo de bens, a segurança das pessoas e o estabelecimento de limites para a manutenção da qualidade ambiental.
Os Comitês Brasileiros (CB) e os Organismos de Normalização Setorial (NOS) são os responsáveis pelas normas. Eles são organizados em uma base setorial ou indicados para tratar de temas de normalização que afetem diversos setores, como é o caso da qualidade, da gestão ambiental e da responsabilidade social.
O desenvolvimento de normas brasileiras implica, entre outros aspectos, voluntariedade, já que a normalização está baseada na atuação voluntária de todos os interessados – exceto nos casos em que o produto exige certificação compulsória – e no consenso, considerando que devem ser levadas em conta a visão e a participação de todos os envolvidos, ou seja, produtores, consumidores e neutros, que são laboratórios, universidades, governo, institutos de pesquisas e outros, que participam de sua criação.
Toda norma surge a partir de uma necessidade da sociedade, em especial, dos setores organizados – que dizem o que e quando normalizar. Geralmente a demanda parte do setor industrial ou do governo, que manifesta a necessidade de uma nova norma. No passo seguinte, a ABNT encaminha a questão a um CB relacionado com o tema, para inclusão no Programa de Normalização Setorial, no qual são estabelecidas as prioridades de normas. Na falta de um comitê específico, a ABNT pode criar um novo CB ou uma Comissão de Estudo Especial.
Dentre os objetivos da normalização estão: na economia, unificar produtos e procedimentos; na comunicação, proporcionar meios mais eficientes na troca de informações entre o fabricante e o cliente, melhorando a confiabilidade das relações comerciais e de serviços; na segurança, proteger a vida humana e saúde; e na proteção ao consumidor, prover a sociedade de meios eficazes para aferir a qualidade dos produtos.
Além disso, a normalização auxilia na eliminação de barreiras técnicas e comerciais, evitando a existência de regulamentações conflitantes sobre o produto e serviços em diferentes países, o que facilita o intercâmbio comercial. Na prática, a normalização está presente na fabricação dos produtos, na transferência de tecnologia e na melhoria da qualidade de vida por meio de normas relativas à saúde, à segurança e à preservação do meio ambiente.

CERTIFICADO E MERCADO

Dentre as vantagens que as certificações trazem ao mercado, a garantia de qualidade e segurança aparece no topo da lista, além da defesa da indústria nacional, diante da concorrência desleal de produtos importados, especialmente os provenientes da Ásia.
Para o gerente do Departamento de Tecnologia e Política Industrial da Associação Brasileira da Industria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Fabian Yaksic, as certificações estabelecem requisitos mínimos de segurança e desempenho, principalmente quando são compulsórias. “As certificações asseguram que o mercado ofereça ao consumidor somente produtos em conformidades com as normas e processos estabelecidos, portanto mais seguros. Para nós, a certificação é encarada como fator de competitividade, de poder oferecer o melhor, diminuindo o espaço de produtos que não estejam em conformidade com as normas”, avalia.
A retirada de produtos de baixa qualidade é outro trunfo da certificação. Para o diretor da Qualidade do Inmetro, Alfredo Lobo, “a certificação compulsória auxilia na retirada de produtos não certificados na mercado, o que gera uma qualidade maior do que é vendido graças à fiscalização. Porém nem todos os produtos precisam desta certificação e a certificação voluntária é uma realidade muito baixa no país, que ainda não construiu a cultura da certificação como um diferencial para o seu produto, que lhe agrega valor”.
O gestor de Certificação de Produtos Eletroeletrônicos da ABNT, Alexandre Kozik, conta que a certificação de um produto é a demonstração que este atendeu de forma satisfatória os requisitos de segurança, eficiência, proteção ao meio ambiente, dentre outros, estabelecidos por um programa de certificação (como os ensaios na norma aplicável e auditorias nas linhas de produção). “Dessa forma, produtos certificados tendem a ser mais seguros, mais eficientes e, por consequência, de melhor qualidade, possibilitando ao próprio mercado”, acrescenta.

CULTURA DA CERTIFICAÇÃO

No Brasil, muitos industriais da área elétrica ainda costumam reclamar do preço da certificação e de uma suposta demora na fila doa laboratórios. Para os entrevistados, a reclamação em geral reflete muito a falta de cultura do industrial brasileiro em submeter seus produtos à avaliação.
O diretor-executivo do Organismo de Certificação de Produto do IEE/USP (Certusp), Jean Bodinaud, conta que a certificação compulsória no país ainda é recente – início da década de 1990 -, o que demanda um custo adicional que não existia antes deste período. “Quando a certificação é obrigatória há muito tempo, o seu preço acaba diluído no desenvolvimento dos produtos, pois os engenheiros trabalharão no projeto com as normas em mãos, o que ‘barateia’ o seu valor à medida que você não precisará fazer ajustes quando submeter o produto à avaliação”, afirma o diretor.
Quanto ao processo ser lento, Bodinaud afirma que em nada ele fica a dever em relação a laboratórios estrangeiros. A auditoria de fábrica pode levar algumas semanas e a fila da certificação pode levar de dois a três meses, dependendo do produto, o que é um tempo considerado normal. Novamente, o desenvolvimento do produto em conformidade com a norma faz toda a diferença no processo.
Se a indústria tem um produto sofisticado que não foi desenvolvido com base nas normas, a chance de a equipe não olhar para uma característica importante é grande e, toda vez que algo estiver fora de conformidade, precisará voltar para a empresa, ser ajustado e novamente entrar na fila do laboratório.
“Se você desenvolver o produto corretamente, o processo de certificação é barato e rápido. Agora, se a indústria quer utilizar o próprio laboratório da certificação para desenvolver sua tecnologia, ela vai pagar mais. Isso porque o laboratório avalia, dá a lista de conformidades e também a lista de conformidades do seu processo, então ele acaba ajudando a indústria a desenvolver o seu produto”, explica Bodinaud.
Para Yaksic, o valor da certificação dentro da produção é significativo, mas a Abinee tem como posicionamento sempre utilizar a certificação como fator de competitividade para a indústria nacional. “A certificação compensa qualquer suposto problema, como tempo ou valor, porque, pior que gastar com ela, é perder mercado para produtos que não oferecem mínimas condições de qualidade. Neste sentido, acreditamos que o fabricante deve se esforçar para certificar seus produtos”.
DESENVOLVIMENTOS TECNOLÓGICOS

Dentre as vantagens da certificação já mencionadas, Bobinaud e Kozik lembram que o processo também ajuda o desenvolvimento tecnológico do país.
Para o diretor do Certusp, quando a indústria está na frente, é ela quem comanda os processos de fabricação e impõe os próprios limites. A certificação de produto também melhora muito a qualidade da tecnologia e ajuda a divulgá-la. “Podemos pegar como exemplo o tablet, que foi um produto inovador há pouco tempo e hoje temos muitos fabricantes. O diferencial do início é a criatividade. Depois os aspectos normativos vão aparecendo e se você entende a tecnologia e esteve à frente do processo, você leva vantagem sobre seus concorrentes”, afirma Bodinaud.
Na opinião de Kozik, a certificação exige das empresas maior atenção com seus produtos, aprimoramento dos procedimentos fabris, maior profissionalização da cadeia produtiva e melhoria constante em todos os processos. “Como resultado obtêm-se menores perdas, produtos melhores, prepara a empresa para atendimento a mercados internacionais e resultados crescentes. Para as indústrias nacionais, a obrigatoriedade da certificação também contribui para uma concorrência mais justa, já que todos os produtos, nacionais ou estrangeiros, precisam atender no mínimo aos requisitos estabelecidos pelo Regulamento de Avaliação da Qualidade (RAC), determinados pelo Inmetro mediante Portaria”.
Os especialistas ressaltam ainda que o Brasil está totalmente integrado às normas de processos e de produtos internacionais. “Em termos de normas e certificações, estamos inseridos no primeiro mundo, do ponto de vista de controle de gestão, com credibilidade e bons resultados. Isso faz sermos frequentemente convidados por organismos internacionais para participar de eventos importantes da área”, avalia o diretor do Inmetro, Alfredo Lobo.
Para Bodinau, o Brasil adotou as normas IEC em meados dos anos 1980 e, desde então, se faz normas brasileiras sem grandes desvios das internacionais, tornando o produto nacional aceito em todo mundo. Além disso, houve um esforço muito grande do Inmetro para estar integrado na comunidade internacional, sendo membro de associações importantes como o Internacional Laboratory Accreditation Cooperation (ILAC). “No universo elétrico, a IEC tem sua rede mundial e o Cobei realmente está representado a IEC no país. Na minha avaliação estamos muito bem qualificados”, afirma Bodinaud.
A estabilidade econômica e o desenvolvimento econômico do Brasil, nos últimos anos, colocaram o país em posição de destaque diante de outras economias emergentes, atraindo grandes investimentos estrangeiros e fomentando na indústria brasileira o desejo de atender de forma mais agressiva ao mercado internacional. Neste sentido, para Kozik, da ABNT, “sob esta ótica de exportação, produtos nacionais em conformidade com normas ABNT IEC poderão ter maior aceitação em outros mercados, além de facilitar possíveis processos de certificação compulsórios estabelecidos por outros países, o que é positivo para nossa balança comercial”, esclarece.
Alfredo Lobo, do Inmetro, aproveita para adiantar que uma das mudanças mais significativas do setor elétrico, em termos de certificação compulsória, deve se concretizar no próximo ano, quando o Inmetro aprova a necessidade de se certificar as instalações elétricas, ponto extremamente importante do ponto de vista da segurança para as pessoas.

Fonte:
Revista O Setor Elétrico – Ano 6 – Edição 70
Novembro 2011

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